Reconhecimento de racismo
Bom dia! Quando somos crianças, temos sonhos. O sonho de uma pode ser ir para a praia, de outra, de ganhar um brinquedo. Uma vez eu ouvi que o sonho de uma vizinha era entrar na minha casa. Minha casa era comum, embaixo da casa da minha avó. Ainda assim, parecia mais arrumada que as outras da rua. Isso me surpreendeu muito na época, e hoje eu sei que o sonho de muitos é alcançar o mínimo pra ter dignidade. Dignidade é poder pagar as contas em dia, poder ter lazer, chance de pagar as próprias contas com o fruto do trabalho.
Eu trabalhei em uma empresa, e uma das minhas amigas não conseguia outro emprego, com um currículo ótimo, inteligente, mas era mal paga nessa empresa. Eu não entendia, porque ela não conseguia? Demorei pra compreender.
Tive um amigo também que era mais novo que eu, que todo mundo achava que éramos um casal, então me paravam para me perguntar porque ele?
Uma vez subindo a rua de casa, ouvi de duas meninas que me achavam a cor dos meus olhos bonita, e quando uma delas riu, a outra falou, ta rindo do que? Você é preta.
Ouvi um professor da Fatec ser racista em sala, não soube como reagir.
Eu não soube reagir todas essas vezes, que minha amiga sofria preconceito pra ir ao mercado, que a outra não conseguia emprego, que meu amigo teoricamente não era o suficiente para mim por ser negro. Quando no cursinho, me falaram que a menina que tinha perdido a prova do vestibular era uma vagabunda, muito provavelmente por causa da pele dela. A única a engravidar na turma, a única negra.
Eu percebi lentamente, porque ninguém vai me ensinar, eu sou branca, nunca sofri um enquadro, perdi vaga de emprego ou fui julgada pela cor da minha pele.
Eu reparei que nos meus círculos quase não tem pessoas negras, gosto de ir ao municipal, ou ver show de música instrumental no Sesc, ver exposições, são poucos negros. Na escola, no técnico, no cursinho, na faculdade, no MBA, e em todas empresas que trabalhei, os negros tinham pouca presença ou faziam parte do grupo de salários mais baixos. As mulheres negras então, são as que menos via. Eu peço desculpas aos meus amigos por toda minha cegueira, e me comprometo a lutar contra esse racismo, que nunca me senti responsável mas que sempre aceitei sem perceber.
Tami
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